segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

domingo, 15 de novembro de 2015

a navalha de palaçoulo: crítica literária

obviamente que não vou aqui fazer uma crítica literária do livro com melhor título de sempre, não tenho lata nem talento para tal (o título do post foi só para atrair leitores, sabido que a literatura é um chamativo de público). e, já agora, para assuntos desse tipo podem falar com o bitór que num dos dias da festa andava com uma t-shirt do franz kafka.
contudo, mesmo sem fazer crítica literária, posso fazer uma coisa muito mais simples que os críticos também fazem: dar estrelas. e, na escala de bola preta a 5 estrelas, a navalha de palaçoulo, o novo livro de contos do transmontano a.m. pires cabral leva 5 estrelas directas. mesmo antes de ter lido já tinha as 5 estrelas. bastava o nome, claro. depois de ler, as estrelas mantêm-se.

sobre o livro, convém dizer que se trata de um livro de contos daquele que é, na minha opinião, o melhor escritor transmontano da actualidade. a navalha de palaçoulo é o nome do maior e último dos dez contos do livro, que dá também nome ao livro. os contos são todos giros, mas o último é o melhor. não vou desvendar o que se passa, mas o enredo gira, claro, à volta de uma navalha de palaçoulo, que é retratada como merece, como algo com personalidade e não um vulgar objecto. uma navalha de palaçoulo deve ser tratada com respeito, como a páginas tantas é disparado por Herculano Capela, uma das personagens do conto:

-Vai arrepender-se, digo-lho eu. O senhor fez o que fez por ciúme. Mas não se insulta assim uma navalha de Palaçoulo, mesmo em nome do amor de uma mulher.

mais não conto, vão ler que vale a pena.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

legislativas 2015 em palaçoulo:

nas primeiras eleições em que eu não pude votar em palaçoulo, os resultados são os do costume. noto, com alguma preocupação que o pnr está a aumentar a sua votação: costumavam ser dois, desta vez foram três (mas devem ter sido por engano...)

terça-feira, 7 de abril de 2015

super sistema à sandokan

se, em palaçoulo, se falar em sandokan, o que primeiro vem à memória não é o tigre da malásia, o pirata criado pelo escritor italiano Emilio Salgari e popularizado por uma série de televisão. e, por estranho que pareça, o que vem à memória nem sequer é uma pessoa, mas sim um sítio lá para os lados da ribeirica.
o que já nem toda a gente de palaçoulo saberá é que o nome do sandokan é, na verdade, super sistema à sandokan. ora, este pequeno grande pormenor faz toda a diferença, porque mesmo não indicando do que se trata, denuncia logo à partida que é uma coisa em grande, um super sistema. por uma questão de ecomonia de esforço e familiaridade, o pessoal trata o super sistema à sandokan apenas por sandokan. da mesma forma que se trata o sport lisboa e benfica simplesmente por benfica. ou por maior.
toda a gente conhece o sandokan, toda a gente sabe onde fica, mas o que é na realidade esse super sistema à sandokan não se consegue explicar ou sequer compreender. simplificando muito, poderíamos dizer que o sandokan é uma propriedade rural com uma casota. ou uma casa, numa horta, onde se fazem umas petiscadas. mas também toda a gente sabe que é muito mais do que isso: o sandokan é, como agora se costuma dizer numa palavra que pode dizer muita coisa ou nada, um espaço (não apenas físico, mas também mental). para não sermos incorrectos na classificação do tipo de espaço digamos, simplesmente, que é um espaço alternativo. um espaço que cruza saberes e sabores, que abraça variadas áreas, da agricultura ao erotismo, passando pela gastronomia, a filosofia, a música, a dança e as ciências do oculto. um espaço rústico, místico, selvagem e sem fronteiras. entrar no sandokan é entrar num mundo de infinitas supresas e uma única certeza: tudo pode acontecer.
em relação ao que de concreto se passa no sandokan, é certo que algumas coisas (verdadeiras ou falsas, versões reduzidas ou amplificadas) vão saíndo para fora mas, mesmo não sendo explicíto nem cumprido à risca, há uma espécie de código à las vegas: what happens in sandokan, stays in sandokan.

quarta-feira, 4 de março de 2015

eu também queria um passeio

então é assim: a artéria que atravessa palaçoulo, que inclui a rua da indústria, rua do rodelão, largo da cruz e rua das eiricas tem cerca de 1300 metros (medidos pelo conta-quilómetros do carro, para verem que há muito trabalho de campo e que não se vem para aqui mandar postas sem serem devidamente preparadas). ora, desses 1300 metros, apenas cerca de 100 metros (medidos pelo conta-quilómetros do carro, para verem que há muito trabalho de campo e que não se vem para aqui mandar postas sem serem devidamente preparadas) não têm passeio.
há-de haver uma boa razão, que desconheço, para que aquele pequeno troço não tenha sido contemplado com betão. ou então não, e ficou assim porque sim. mas não deixa de ser um pouco injusto que os moradores desses 100 metros não possam sair com os seus sapatinhos de verniz directamente para um passeio.

um pouco mais a sério, que a questão pode ser séria: essa zona sem passeio é uma zona perigosa, porque os carros fogem dos paralelos e aproveitam ao máximo o alcatrão próximo das casas. com curvas, o problema agrava-se. na verdade, o passeio é secundário, o que é realmente urgente é algo que force os carros a circularem por onde devem circular: a estrada. pode ser um monte de pedras, pode ser uma vala, qualquer coisa. é claro que um passeio (ou pelo menos um lancil) fazia mais sentido, e resolvia a situação, mas qualquer coisa serve, desde que seja feita.

o facto de a minha casa estar nesses 100 metros ostracizados é um mero pormenor.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

o meu primeiro casamento

lembro-me bem do meu primeiro casamento. faz anos por esta altura. mais de vinte, meu deus, mas ainda me lembro. a noiva era mais velha, ou mais experiente, como é de bom tom dizer-se. não foi escolhida por mim, foi escolhida para mim, e foi bem escolhida.
lembro-me também de, após o casamento, ter ido convidar a recém-esposa para dançar na festa que sempre havia na casa do povo ao som de uma aparelhagem. como tinha de ser feito, como a tradição mandava, e apesar da timidez.
lembro-me ainda de, depois de ter pago o vinho, já estar a contar com o casamento, mas só quando ouves o teu nome é que realizas o que está a acontecer. ser casado era um passo importante da juventude, mais um marco para enterrar a garotice. já eras considerado um homem pelos homens. se já te casavam, até já podias casar.
o casamento durou pouco, apenas um ano, mas o primeiro casamento é como o primeiro amor: nunca se esquece.

mas agora as pessoas já não se casam. nem sequer no carnaval. devem ser sinais dos tempos.