palaçoulo sempre de foi uma terra de ponta. também na tecnologia. nos tempos em que ainda não havia sportTv, nem sequer tv cabo, ainda nos principios da televisão por satélite, nos tempos em que o Benfica chegava a finais dos clubes campeões europeus, sorragas, com bom olho para o negócio, instala uma parabólica gigante no seu café. era a novidade total. havia uma ou outra parabólica por miranda e tal, mas nada que se comparasse com aquela. lá, muita gente viu pela primeira vez a mtv, a eurosport, a cnn, a rtl (que tinha uns filmes interessantes nas noites de fim de semana, ainda que em alemão e sem legendas) e tantos outros canais. mas o que fazia realmente a diferença era o futebol. os jogos das competições europeias não davam sempre na RTP mas davam algures num canal da parabólica de sorragas, provavelmente num canal do país da equipa adversária. as enchentes, em dias de grandes jogos, sucediam-se. vinha pessoal dos três concelhos para ver a bola. o café era grande e aguentava muita gente, até um dia que aquilo rebentou...
meia final da liga dos campeões (antes, taça dos clubes campeões europeus), 1990. benfica-marselha. o célebre jogo do célebre golo do vata, com a mão. não creio estar a exagerar muito se disser que estavam perto de 1000 pessoas para ver o jogo. obviamente, não cabia tanta gente no café. a solução foi instalar outra televisão na rua, no extinto cureto onde centenas de pessoas festejaram a passagem à final. aquele golo do vata, a quantidade de cerveja pelo ar, aquela alegria toda naquele estádio improvisado em plena praça, nunca esqueci.
para rever:
[o sucesso económico da parabólica, por via do futebol, foi a tal ponto enebriante, que se tentou fazer daquilo um espectaculo, com bilhete a pagar, em sala privada. felizmente, o bom senso das pessoas não permitiu sucesso à iniciativa]
quarta-feira, 28 de maio de 2008
quarta-feira, 21 de maio de 2008
referência incontornável
a revista visão está a distribuir um guia "Portugal Inesquecível", em fascículos por regiões. esta semana é sobre Trás-os-Montes e Alto Douro, e na secção de compras lá estão as obrigatórias navalhas de palaçoulo. a visita a palaçoulo faz, também, parte de um dos percursos de passeio recomendados.
terça-feira, 13 de maio de 2008
nova sondagem - a festa de maio
a festa de nossa senhora do rosário (mais conhecida por festa de Maio) anda a ficar muito esquisita. o ano passado não houve festa, porque a igreja estava em obras (e???). este ano, parece que vai ser em junho.
é sobre isso, a questão da nova sondagem, na barra lateral:
o que acha de, este ano, a festa de maio ser em junho?
após os resultados esclarecedores da primeira sondagem, onde a grande maioria decidiu que a sala de ordenha devia ir abaixo,
este post pretende, também, servir para que se deixem sugestões para a próxima sondagem, que será sobre o que mais gostaria que fosse construído ou alterado em palaçoulo. deixem nos comentários.
é sobre isso, a questão da nova sondagem, na barra lateral:
o que acha de, este ano, a festa de maio ser em junho?
após os resultados esclarecedores da primeira sondagem, onde a grande maioria decidiu que a sala de ordenha devia ir abaixo,
este post pretende, também, servir para que se deixem sugestões para a próxima sondagem, que será sobre o que mais gostaria que fosse construído ou alterado em palaçoulo. deixem nos comentários.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
dia de São Miguel / a história do caramonico
hoje era feriado em palaçoulo.
deveria ser feriado em palaçoulo.
dia de São Miguel, o santo padroeiro.
até há poucos anos era feriado. festa.
um preço a pagar pela industrialização, dirão.
sim, mas será certo?
adiante, que hoje é dia de festa...
São Miguel não é um simples santo padroeiro de Palaçoulo. é simbolo da terra e está directamente ligado à mais forte das identificações dos habitantes de palaçoulo - os caramonicos.
resumidamente, a partir da história descrtita no livro "Mirandês e Caramonico", de José Francisco Fernandes, a sempre curiosa história do caramonico:
1790, a armação da capela-mor ruiu. ao ruir, atingiu a imagem de S. Miguel, que ficou destruída. o mesmo aconteceu ao "caramono" derrubado sob os pés do arcanjo, já carunchoso e de figura horrível, a representar o diabo, também por lá denominado "demonho", "diabro", "caramono" e "caramonico". do santo e do mafarrico apenas encontraram pedaços dispersos, e vendo que não se podia aproveitar nada, o pároco mandou uns rapazes queimar os destroços. aos rapazes, não pareceu boa ideia e um deles disse aos outros "Bó, pois vamos agora a queimar isto? ao menos o que é do diabo atiramos com ele para a lagoa, que o havemos de afogar". os outros aceitaram e reforçaram: "Então, se o lançamos para a lagoa, lançamos para lá tudo". [a famosa lagoa existia onde é agora a casa do povo, embora ocupando um espaço mais amplo. lá bebiam as vacas e nadavam os porcos, que por esses tempos deambulavam pelas ruas] os rapazes fizeram um feixe dos destroços e atiraram com tudo para a lagoa. o feixe teimava em não se afogar e até parecia que "refunfunhegava" cada vez mais, provocantemente, à medida que a água se introduzia nos buracos feitos pelo caruncho e por umas "rachicas" que tinha o "caramono".
então, para que se afogasse e parasse de refilar, os rapazes começaram a atirar-lhe calhaus, incentivando-o:"Inda refunfunhegas, caramonico de mil demonhos?!" assim continuaram, até conseguirem que, com o peso das pedras lançadas em cima, o feixe fosse ao fundo. uma onda de alvoroço começou a correr pela aldeia sobre a pirraça, "perrice", ou simples divertimento dos rapazes, mas já não foram a tempo de remediar o que fosse.
o caso foi aproximadamente assim, simples, mas iria ficar na lembrança de gerações.
mas antes, um interlúdio...
na mesma altura do afogamento do caramonico, Palaçoulo fez uma comédia humorístico-satírica, usuais naqueles tempos, onde inventou uma história dos
escrinheiros de vilar seco (terra vizinha), que quizeram chegar à lua
[a comédia dos escrinheiros e a lua:
Às gentes de vilar seco chamavam escrinheiros porque muitas pessoas se dedicavam a fazer escrinhos, com palha e casca de silva. na comédia representada pelos de palaçoulo, muito concorrida por gentes das redondezas, os representadores, com grande alarido e espalhafato, propalaram que os de Vilar Seco tinham pretendido chegar à lua com os seus escrinhos, uns obrepostos sobre os outros, empilhados em rimas, verticalmente justapostas. juntaram todos os escrinhos que havia na terra, começaram a montar o projecto, e quando estavam mesmo a chegar à lua, os escrinhos acabaram. ao verem que estavam quase a chegar à lua e sem mais escrinhos, resolveram tirar os de baixo para acrescentar em cima. obviamente, veio tudo abaixo.
(*a razão porque a torre de escrinhos ruiu não é contada por José Francisco Fernandes, mas eu não sou politicamente correcto. aliás, isso é que dá piada à comédia...)]
a gente de vilar seco não gostou da piada e prometeu a Palaçoulo que "lhas havia de pagar", e respondeu com outra comédia, onde a povoação de vilar seco explorou a passagem relacionada com a lagoa. também perante grande afluência de espectadores, em atitude espalhafatosamente burlesca e zombeteira, os de Vilar Seco clamaram e proclamaram: "Bota Calhaus! bota calhaus, que lo habemos de afogar! Ah si! Inda refunfunhegas, caramonico de mil demonhos? Palaçuolo afoga santos! caramonicos, ah caramonicos de Palaçuolo! Estais sastifeitos, ah caramonicos de palaçuolo? Caramonicos, caramonicos, siempre caramonicos"!
A partir de aí, os palaçoluences, caramonicos ficaram. os de palaçoulo não gostavam, e a gente de fora que se atrevesse a chamar "caramonico", "refunfunhega" ou, simplesmente a acenar para o caso, apanhava imediatamente com a resposta, que chegou até ao presente, bem conhecida e, em certos casos, não muito agradável:
"O santo 'stá lá no céu,
e a imagem no altar
e os cornos do vosso avô
'stão na lagoa a nadar.
Ide-os de lá sacar!"
A gente de palaçoulo chama a esta resposta a "oração", com que se pretende (e se consegue) calar e arrumar os provocadores.
(*uma versão hardcore da oração, também não referenciada no livro de J.F.F, inclui um amigável "e vós, seus filhos da puta" antes do útlimo verso)
a história do caramonico permanece até hoje, e todos os anos a tradição é renovada dia 8 de Maio (agora, no domingo mais próximo).
como memória do acontecido há mais de 200 anos, durante a procissão, a imagem de São Miguel é inclinada por três vezes consecutivas, pelos quatro rapazes que carregam o andor, imitando atirar com o "santo" quando a procissão passa no local onde estava a lagoa. muitos padres não gostavam deste acto processional, esforçando-se por o impedir, mas em vão. o santo continua a "ser atirado".
Nota: este resumo não dispensa a leitura da história completa, contada no livro referenciado.
deveria ser feriado em palaçoulo.
dia de São Miguel, o santo padroeiro.
até há poucos anos era feriado. festa.
um preço a pagar pela industrialização, dirão.
sim, mas será certo?
adiante, que hoje é dia de festa...
São Miguel não é um simples santo padroeiro de Palaçoulo. é simbolo da terra e está directamente ligado à mais forte das identificações dos habitantes de palaçoulo - os caramonicos.
resumidamente, a partir da história descrtita no livro "Mirandês e Caramonico", de José Francisco Fernandes, a sempre curiosa história do caramonico:
1790, a armação da capela-mor ruiu. ao ruir, atingiu a imagem de S. Miguel, que ficou destruída. o mesmo aconteceu ao "caramono" derrubado sob os pés do arcanjo, já carunchoso e de figura horrível, a representar o diabo, também por lá denominado "demonho", "diabro", "caramono" e "caramonico". do santo e do mafarrico apenas encontraram pedaços dispersos, e vendo que não se podia aproveitar nada, o pároco mandou uns rapazes queimar os destroços. aos rapazes, não pareceu boa ideia e um deles disse aos outros "Bó, pois vamos agora a queimar isto? ao menos o que é do diabo atiramos com ele para a lagoa, que o havemos de afogar". os outros aceitaram e reforçaram: "Então, se o lançamos para a lagoa, lançamos para lá tudo". [a famosa lagoa existia onde é agora a casa do povo, embora ocupando um espaço mais amplo. lá bebiam as vacas e nadavam os porcos, que por esses tempos deambulavam pelas ruas] os rapazes fizeram um feixe dos destroços e atiraram com tudo para a lagoa. o feixe teimava em não se afogar e até parecia que "refunfunhegava" cada vez mais, provocantemente, à medida que a água se introduzia nos buracos feitos pelo caruncho e por umas "rachicas" que tinha o "caramono".
então, para que se afogasse e parasse de refilar, os rapazes começaram a atirar-lhe calhaus, incentivando-o:"Inda refunfunhegas, caramonico de mil demonhos?!" assim continuaram, até conseguirem que, com o peso das pedras lançadas em cima, o feixe fosse ao fundo. uma onda de alvoroço começou a correr pela aldeia sobre a pirraça, "perrice", ou simples divertimento dos rapazes, mas já não foram a tempo de remediar o que fosse.
o caso foi aproximadamente assim, simples, mas iria ficar na lembrança de gerações.
mas antes, um interlúdio...
na mesma altura do afogamento do caramonico, Palaçoulo fez uma comédia humorístico-satírica, usuais naqueles tempos, onde inventou uma história dos
escrinheiros de vilar seco (terra vizinha), que quizeram chegar à lua
[a comédia dos escrinheiros e a lua:
Às gentes de vilar seco chamavam escrinheiros porque muitas pessoas se dedicavam a fazer escrinhos, com palha e casca de silva. na comédia representada pelos de palaçoulo, muito concorrida por gentes das redondezas, os representadores, com grande alarido e espalhafato, propalaram que os de Vilar Seco tinham pretendido chegar à lua com os seus escrinhos, uns obrepostos sobre os outros, empilhados em rimas, verticalmente justapostas. juntaram todos os escrinhos que havia na terra, começaram a montar o projecto, e quando estavam mesmo a chegar à lua, os escrinhos acabaram. ao verem que estavam quase a chegar à lua e sem mais escrinhos, resolveram tirar os de baixo para acrescentar em cima. obviamente, veio tudo abaixo.
(*a razão porque a torre de escrinhos ruiu não é contada por José Francisco Fernandes, mas eu não sou politicamente correcto. aliás, isso é que dá piada à comédia...)]
a gente de vilar seco não gostou da piada e prometeu a Palaçoulo que "lhas havia de pagar", e respondeu com outra comédia, onde a povoação de vilar seco explorou a passagem relacionada com a lagoa. também perante grande afluência de espectadores, em atitude espalhafatosamente burlesca e zombeteira, os de Vilar Seco clamaram e proclamaram: "Bota Calhaus! bota calhaus, que lo habemos de afogar! Ah si! Inda refunfunhegas, caramonico de mil demonhos? Palaçuolo afoga santos! caramonicos, ah caramonicos de Palaçuolo! Estais sastifeitos, ah caramonicos de palaçuolo? Caramonicos, caramonicos, siempre caramonicos"!
A partir de aí, os palaçoluences, caramonicos ficaram. os de palaçoulo não gostavam, e a gente de fora que se atrevesse a chamar "caramonico", "refunfunhega" ou, simplesmente a acenar para o caso, apanhava imediatamente com a resposta, que chegou até ao presente, bem conhecida e, em certos casos, não muito agradável:
"O santo 'stá lá no céu,
e a imagem no altar
e os cornos do vosso avô
'stão na lagoa a nadar.
Ide-os de lá sacar!"
A gente de palaçoulo chama a esta resposta a "oração", com que se pretende (e se consegue) calar e arrumar os provocadores.
(*uma versão hardcore da oração, também não referenciada no livro de J.F.F, inclui um amigável "e vós, seus filhos da puta" antes do útlimo verso)
a história do caramonico permanece até hoje, e todos os anos a tradição é renovada dia 8 de Maio (agora, no domingo mais próximo).
como memória do acontecido há mais de 200 anos, durante a procissão, a imagem de São Miguel é inclinada por três vezes consecutivas, pelos quatro rapazes que carregam o andor, imitando atirar com o "santo" quando a procissão passa no local onde estava a lagoa. muitos padres não gostavam deste acto processional, esforçando-se por o impedir, mas em vão. o santo continua a "ser atirado".
Nota: este resumo não dispensa a leitura da história completa, contada no livro referenciado.
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